30 de set. de 2015

Viva o Dia Mundial do Tradutor, o profissional invisível


Quando comecei a minha atividade como tradutora, eu não estava muito feliz com ela. Na realidade, eu estava frustrada porque via cada vez mais distante o sonho de voltar a exercer a minha profissão de psicóloga. Afinal, eu havia estudado por cinco anos e havia dado trocentas horas de aulas de inglês para ajudar meu pai a pagar a minha faculdade. Toda vez que eu arranjava um novo emprego fora da psicologia, era a mesma sensação de ambivalência: Tenho emprego, posso pagar as contas... x Adeus consultório, quem sabe um dia...

No início, eu achava que eram um desperdício de vida as horas que eu passava diante do computador traduzindo milhares de palavras sobre porcas e parafusos ou aqueles longos "Termos e Condições" de software que ninguém lê e clica logo no "Concordo que li e aceito". Hoje em dia, a minha opinião e o meu sentimento quanto a ser tradutora mudaram completamente.

Tentem imaginar o que seria do mundo sem os tradutores. Ninguém poderia ler livros ou assistir a filmes em idiomas que desconhecessem; médicos não poderiam usar dispositivos que tivessem seus manuais descritos em outros idiomas; ninguém poderia celebrar contratos internacionais, etc., etc., etc. 

Sentada aqui na sala da minha casa, só eu e o meu computador, é fácil perder a noção da importância do que faço. É mais fácil ainda não ter o reconhecimento dos outros, que acham que o tradutor (principalmente o freelancer, como eu) tem um trabalho fácil, que qualquer um pode fazer e que tem a vida boa; acorda a hora que quer, não tem chefe, trabalha as horas que quiser e pode tirar quantos dias de folga lhe convier. O que as pessoas não enxergam, é que cada cliente que temos é um chefe com as suas especificidades e exigências, as horas de trabalho são regidas pelos prazos de entrega dos projetos e a hora de acordar pode variar, mas também nunca sabemos a hora que vamos dormir. Isso para não falar que o tradutor freelancer não recebe férias, auxílio-doença, 13.º salário nem subsídio de Natal.

É fácil não enxergar tudo isso. É fácil não reconhecer a importância do trabalho do tradutor simplesmente porque é um trabalho que sempre está lá. Eu comparo ao trabalho da dona de casa (ou do dono de casa) que só é notado pelos outros membros da família quando não é feito, quando o almoço não ficou pronto ou quando as roupas não foram lavadas. Da mesma forma, o trabalho do tradutor só é notado quando ele erra, quando faltou uma legenda ou quando o aparelho que você comprou pela Internet não vem com explicações no seu idioma. E assim seguimos nós, os tradutores freelancers, de palavra em palavra, com dores nas costas e nos punhos, com a vista cansada, com a ansiedade de um prazo que se aproxima e que não podemos adiar, mas, acima de tudo, com a plena noção de que mesmo sendo "profissionais invisíveis", nós ajudamos o mundo a girar.

Hoje em dia, tenho um prazer enorme no que faço, tenho uma admiração gigante pelos meus colegas, tenho a certeza de que mesmo não atuando como psicóloga, estou ajudando as pessoas, e quando preencho um formulário que pergunta qual a minha profissão, preencho com todo orgulho: TRADUTORA.

Parabéns a todos os profissionais da tradução! Quem sabe num futuro breve, até o Google vai nos parabenizar pelo nosso dia. 

Esse texto é dedicado aos colegas e clientes com quem aprendo diariamente e com os quais sempre pude contar. Sem vocês (e os glossários), nada disso seria possível. Muito obrigada e "vamo que vamo"!