21 de nov. de 2015

Receita de stamppot, um prato tipicamente holandês

Quem disse que na Holanda não existe comida típica? Existe sim e eu adoro todas as três!

Brincadeiras à parte, é fato que a tradição culinária da Holanda não é o seu forte, como eu já disse no post Cozinha afetiva, mas é claro que existem pratos tradicionais daqui e eu estou falando de prato de comida mesmo, e não de salgados fritos e panquecas. Dentre os que eu tive a oportunidade de conhecer, há três que eu adoro: Ewrtensoep (sopa de ervilha), Hachee (ensopado de carne) e Stamppot andijvie met rookworst (purê de batata com escarola e salsicha defumada).

Stamppot andijvie met rookworst (tente pronunciar quando não estiver com fome: stampót andaive mét rôqvrôst)

Os holandeses se orgulham de ser práticos, e praticidade na cozinha é "o prato do dia". O stamppot faz jus a isso e se você já sabe fazer purê, não tem mistério nenhum. Eu não poderia ir embora da Holanda sem experimentar fazer pelo menos um prato típico daqui e escolhi o stamppot exatamente por ser simples e rápido. Como estou conciliando o trabalho com as arrumações e providências para a nossa mudança, sobra pouco tempo para pratos mais elaborados.

Ingredientes

1 kg batatas descascadas e cortadas em cubos
1 col. (sopa) de manteiga
50 ml de leite
1 cebola média fatiada
200 g de bacon em cubinhos ou tiras
150 g de escarola crua cortada em tiras
1 rookworst (salsicha defumada tipicamente holandesa) - opcional
250 ml de molho de carne espesso tipo madeira ou ferrugem (gravy) - opcional
Sal, pimenta branca e noz moscada para temperar o purê a gosto

Modo de preparo

1- Coloque a salsicha defumada para cozinhar por 30 minutos numa panela com água no fogo baixo, sem ferver. A salsicha é um acompanhamento opcional para o stamppot. Eu, como sou gulosa quis abusar da "holandesisse", fiz com bacon e salsicha. Se você não tiver acesso a esse tipo de salsicha, uma linguiça calabresa de boa qualidade grelhada, deve ficar muito bom também.

Cozinhe a salsicha sem deixar a água ferver.

2- Enquanto a salsicha cozinha, refogue a cebola com o bacon numa frigideira em fogo baixo para não torrar. Esse refogado com cebola foi incremento meu, normalmente eles apenas cozinham o bacon na água e depois acrescentam ao purê e existem versões do purê sem bacon também.

Refogado de bacon com cebola para dar uma "adubada" no purê.

3- Coloque as batatas para cozinhar até ficarem bem macias e, enquanto isso, prepare o molho de caldo de carne para a salsicha. Eu usei um pacotinho de molho para stamppot que se encontra nos supermercados daqui, mas você pode fazer um molho de caldo de carne espesso, chamado gravy nos EUA e na Inglaterra, e que equivale ao nosso molho ferrugem, no Brasil. Como eu disse acima, a salsicha e o molho são opcionais, stamppot mesmo é só a batata amassada com as verduras ou legumes, mas esse molho dá um toque especial, mesmo que você faça sem a salsicha.

Caldo de carne tudo de bom! Nesse tinha pedacinhos de cebola torrada.

4- Após escoar a água do cozimento, devolva as batatas para a panela e amasse grosseiramente,  em fogo baixo, junte a manteiga, o leite e a escarola, também conhecida como endívia ou chicória. Depois tempere a gosto com sal, pimenta branca e noz moscada e, por fim, acrescente o refogado de cebola e bacon ao purê.

A escarola pode ser substituída por espinafre, couve ou repolho crú e também por cenoura cozida.

5- Para servir, coloque uma generosa quantidade do purê no meio do prato, a salsicha em cima do purê e o molho de caldo de carne por cima da salsicha. Há quem faça um buraco no meio do purê , tipo uma piscininha, para concentrar o molho lá. Servi a metade da salsicha cortada em rodelas (sem separar as rodelas totalmente) para cada pessoa. Eu poderia ter colocado menos salsicha no prato, daria uma aparência mais elegante, mas depois que vendemos a nossa TV para a mudança, parei de assistir os programas de culinária gourmet e liguei o modo "o céu é o limite". :-)

A salsicha pode ser substituída por ensopado de carne ou até mesmo ser dispensada.

Ficou uma delícia, mas de fato exagerei. Só o purê com a cebola, a escarola e o bacon já daria uma senhora refeição. A quantidade que fiz para dois daria para três tranquilamente. O marido adorou, elogiou muitas vezes e chegou a dizer que foi o melhor stamppot que ele já comeu, mas depois do "prato de peão" que coloquei à frente dele, desconfio que ele não queira comer purê de batata de novo por pelo menos um mês...

Se você resolver fazer stamppot em casa, me conta depois aqui nos comentários como ficou. Eu não tenho muita prática em dar receitas online, então se quiserem uma receita mais confiável e mais simples de stamppot, bem como de vários outros pratos tipicamente holandeses, acesse o site Portal de Holambra clicando aqui. Encontrei esse site por acaso e ele é muito legal. Tem não só várias receitas que você pode baixar em .pdf como também a origem de algumas receitas e vários aspectos culturais  e históricos da Holanda e de Holambra, no Brasil.

Bom apetite e até a próxima! ;-)


10 de nov. de 2015

Viva o amor que liberta!


Foto do meu último aniversário no Brasil com a minha família completa. Eles são a base de onde eu salto.
Na data de hoje completo 41 anos. Esta manhã, quando abri o meu Facebook dei de cara com uma linda homenagem da minha mãe, onde entre outras coisas, ela diz "Meu amor por ti não é egoísta, pois vivi na pele e coração a alegria de amar e ser amada intensamente e é exatamente o que mais te desejo!" e foi pensando nesse amor que liberta que me inspirei para escrever esse post.

Eu não sou mãe, mas imagino o que sente uma mãe quando deixa o filho na escola pela primeira vez... a partir dali o mundo dele não se resume mais às paredes de casa e essa será só a primeira de milhares de outras despedidas.

Lembro-me de crescer ouvindo minha mãe dizer "não criei meus filhos pra mim, mas sim pro mundo", e no fundo eu achava que ela dizia isso da boca pra fora, mas aí chegou o dia em que eu estava com 25 anos, havia decidido que era hora de sair de casa, tinha acabado de me formar em psicologia e queria fazer especialização no Rio de Janeiro (nessa época morávamos em Fortaleza). 

Eu estava dobrando as últimas peças de roupa para pôr na mala, quando desatei a chorar. Minha mãe, que estava me ajudando nas arrumações, me abraçou e deu-se o nosso primeiro pequeno diálogo que eu nunca esquecerei:

- O que foi, Larissa?
- Eu tô com saudade de casa, mãe.
- Minha filha, você está indo porque escolheu, e se você não gostar, você sabe que a hora que quiser você volta. Aqui é e sempre será a tua casa, mas vai filha. Tudo que eu e teu pai mais queremos é ver vocês bem encaminhados na vida.

Minha mãe, desde sempre me dando a mão para eu ir mais longe.
Eu fui e é claro que nunca mais voltei. A minha mãe sabia que eu não voltaria, e mesmo com o coração apertado de quem vê o filho partir, ao perceber a minha angústia e o meu medo, com as suas palavras ela teceu uma rede de segurança por baixo dos meus pés e me impulsionou a voar. Naquele momento, eu entendi que ela sempre foi sincera quando dizia ter criado os filhos para o mundo. Naquele momento ela me ensinou o que é o amor que liberta.

Os anos se passaram, eu já vivia no Rio de Janeiro há 7 anos quando conheci o Filipe. Depois de 1 ano de relacionamento, chegou a hora de ele voltar para Portugal e decidimos que iríamos viver juntos no Porto, pois não queríamos ter uma relação à distância. Meus pais ainda moravam em Fortaleza e quando comuniquei minha decisão a eles por telefone, eles ficaram genuinamente felizes por mim e, mais uma vez, me incentivaram a partir e me asseguraram de que se eu não gostasse da experiência, tinha para onde voltar. 

É preciso muita confiança na educação que se dá a uma filha para incentivá-la a partir para outro continente para viver com um homem que eles nem conheciam direito. A minha mãe conhecia o Filipe "de raspão" e o meu pai nunca chegou a conhecê-lo pessoalmente. Ele faleceu 4 meses após eu ter me mudado para Portugal, mas mesmo apenas através de bate-papo pelo Skype, deu tempo de se tornarem grandes amigos. Felizmente, eu fui ao Brasil acompanhar a cirurgia do meu pai e estava lá quando ele faleceu, e mesmo tendo todas as razões do mundo para pedir que eu ficasse mais tempo ao lado dela e de meus irmãos naquele momento, a minha mãe foi comprar uma camisola super sexy pra mim e ao me oferecê-la, deu-se o nosso segundo pequeno diálogo que eu nunca esquecerei:
Meu pai, sempre me dando segurança para voar.

- Minha filha, eu estou sentindo a maior dor do mundo agora porque vivi o maior amor do mundo com o teu pai. Eu tô triste agora porque fui muito feliz com ele, e a única coisa que eu desejo é que vocês [eu e meus irmãos] sejam felizes com os parceiros de vocês como eu fui com o teu pai. Por isso, por favor, volta pro lado do teu marido, sejam unidos e aproveitem cada segundo dessa vida juntos, porque ela passa rápido demais...

Isso não foi bem um diálogo, foi mais um monólogo porque ela falava e eu só chorava. E hoje, quando li a homenagem que ela fez para mim pelo menu aniversário, fui catapultada no tempo para aquele momento e me dei conta do quanto essas atitudes dela e do meu pai sempre me ajudaram a superar os momentos mais difíceis longe de casa. Se sempre que eu falasse com eles ou meus irmãos após ter me mudado para a Europa eles estivessem tristes e chorosos, indiretamente me pedindo para voltar, eu não teria conseguido viver tanto tempo por aqui. 

Quando atualmente as pessoas me perguntam "mas você tem coragem de começar tudo de novo num quarto país"? (Estamos nos mudando para a França, depois de Brasil, Portugal e Holanda.) Eu costumo responder que sim porque na verdade, a decisão mais difícil que tomei foi quando resolvi sair do Brasil. Agora, se vou para a direita ou para a esquerda, não faz muita diferença. Porém, no fundo do meu coração, sei que o que me dá essa coragem mesmo é a tal rede de segurança que os meus pais teceram sob os meus pés, confiando em mim, nas minhas escolhas e me impulsionando a seguir em frente por mais medo que eu tivesse e eles também. 

Não só pelas palavras, mas principalmente pelo exemplo, eles me ensinaram que o verdadeiro amor existe, liberta e se alegra com a felicidade do outro, mesmo que essa felicidade seja há milhares de quilômetros de distância. É por isso que hoje o aniversário é meu, mas os parabéns são para eles. Um brinde a todos os pais que educam seus filhos para serem livres.     

3 de nov. de 2015

Cenas dos próximos capítulos

Foto do parque com a torre Euromast ao fundo, um dos símbolos de Roterdã.

Senti a necessidade de escrever a postagem "A Holanda é linda, mas infelizmente não é o meu número" quando comecei a pesquisar sobre a cidade que será o nosso próximo destino. Durante a pesquisa, observei que a grande maioria dos depoimentos publicados são de pessoas que estão felizes da vida com o local onde vivem, quase todos os blogues têm aquela mensagem subliminar "eu moro onde você passa férias e essas são as minhas dicas de ouro".

Pensei cá com os meus botões: E por que não escrever um texto sobre a nossa difícil e frustrante tentativa de se enquadrar na Holanda? Pelas conversas que temos com os nossos amigos também imigrantes por aqui, todos se sentem mais ou menos como nós e quase todos os que não têm vínculo conjugal com alguém de nacionalidade holandesa têm planos de partir em breve ou assim que possível. E foi assim que resolvi escrever aquele texto, pois acredito que o outro lado da moeda migratória precisa sair das rodinhas de bate-papo entre imigrantes e ser visto por quem está considerando imigrar.


Enquanto escrevia, eu sentia o meu coração acelerado. Estava triste e ansiosa ao mesmo tempo. Triste pelo contexto da situação e ansiosa para ver a reação dos leitores. Quando cliquei em "Publicar" e compartilhei o texto no Facebook, comecei a me preparar para receber críticas e opiniões que discordariam da minha, e pode ser que ainda venha a recebê-las, mas o fato é que até agora, todas as pessoas que se manifestaram, de alguma forma se identificaram com o texto ou apreciaram-no. Se você ainda não leu a postagem da qual estou falando, clique aqui

Eu não esperava que tantas pessoas imigradas em países tão diferentes se revissem na nossa história, mas pensando bem, isso comprova que o problema não está na Holanda, muito menos no povo holandês, mas sim nas dificuldades implícitas à imigração em países com cultura e funcionamento tão diferentes dos nossos. Recebemos mensagens de amigos que vêm pensando em imigrar e que se sentiram divididos após ler aquela postagem. Apesar de o meu objetivo ser alertar as pessoas para esse outro lado da moeda, como eu disse acima, não quero que concluam que imigrar não vale a pena, vale e muito! Mas tudo depende dos seus objetivos na imigração e das suas prioridades na vida. 


Quando nós constatamos que não estávamos felizes aqui na Holanda, imediatamente o Filipe começou a procurar emprego em Portugal e no Brasil porque tudo o que queríamos era voltar para casa (eu sou tradutora freelancer, posso trabalhar em qualquer lugar), mas como atualmente está quase impossível conseguir emprego na área dele nesses países, resolvemos incluir a França nessa busca também, já que ele fala francês. Resumo da ópera: vamos mudar para Montpellier, no Sul da França!

Mais uma vez, vamos nos lançar numa cidade onde nunca estivemos, onde não conhecemos uma alma viva e euzinha aqui vou ter que aprender mais um idioma. Confesso que me dá uma certa preguiça começar tudo de novo, mas por outro lado, estamos muito empolgados com a mudança e estamos apostando todas as nossas cartas para vivermos lá mais felizes e integrados do que estamos vivendo aqui. Fatores favoráveis não faltam: eu sempre quis aprender francês (acho chiquérrimo), a região é super ensolarada, tem praia a poucos minutos da cidade, estação de esqui nos Pirineus a 1h30min de carro, produz vinhos maravilhosos e (eu já disse praia?), estaremos no país onde gastronomia é assunto seríssimo e tenho certeza que vamos tirar bastante proveito disso.

Vou sentir muita falta da minha grande companheira e de ir com ela para todo lado.

Como veem, ainda tem muita água pra passar debaixo dessa ponte até a gente conseguir voltar pra casa, e eu vou continuar relatando nossas experiências aqui no blogue. Neste momento, estamos em fase de despedida da Holanda e dos amigos queridos que fizemos aqui. Faltam poucas semanas para partirmos e estes dias têm sido agridoces. Não é fácil nos desfazermos das nossas pequenas conquistas, dizer adeus a pessoas incríveis que fizeram parte da nossa vida nos três últimos anos e, ao mesmo tempo, lidar com o frio na barriga de quem vai mergulhar num mar desconhecido mais uma vez. O jeito é tampar o nariz e se atirar!

Aguardem as cenas dos próximos capítulos... ;-)

PS: Ilustrei essa postagem com fotos do outono holandês porque acho o Outono super nostálgico, e nostalgia é o que não falta por aqui ultimamente.