10 de nov. de 2015

Viva o amor que liberta!


Foto do meu último aniversário no Brasil com a minha família completa. Eles são a base de onde eu salto.
Na data de hoje completo 41 anos. Esta manhã, quando abri o meu Facebook dei de cara com uma linda homenagem da minha mãe, onde entre outras coisas, ela diz "Meu amor por ti não é egoísta, pois vivi na pele e coração a alegria de amar e ser amada intensamente e é exatamente o que mais te desejo!" e foi pensando nesse amor que liberta que me inspirei para escrever esse post.

Eu não sou mãe, mas imagino o que sente uma mãe quando deixa o filho na escola pela primeira vez... a partir dali o mundo dele não se resume mais às paredes de casa e essa será só a primeira de milhares de outras despedidas.

Lembro-me de crescer ouvindo minha mãe dizer "não criei meus filhos pra mim, mas sim pro mundo", e no fundo eu achava que ela dizia isso da boca pra fora, mas aí chegou o dia em que eu estava com 25 anos, havia decidido que era hora de sair de casa, tinha acabado de me formar em psicologia e queria fazer especialização no Rio de Janeiro (nessa época morávamos em Fortaleza). 

Eu estava dobrando as últimas peças de roupa para pôr na mala, quando desatei a chorar. Minha mãe, que estava me ajudando nas arrumações, me abraçou e deu-se o nosso primeiro pequeno diálogo que eu nunca esquecerei:

- O que foi, Larissa?
- Eu tô com saudade de casa, mãe.
- Minha filha, você está indo porque escolheu, e se você não gostar, você sabe que a hora que quiser você volta. Aqui é e sempre será a tua casa, mas vai filha. Tudo que eu e teu pai mais queremos é ver vocês bem encaminhados na vida.

Minha mãe, desde sempre me dando a mão para eu ir mais longe.
Eu fui e é claro que nunca mais voltei. A minha mãe sabia que eu não voltaria, e mesmo com o coração apertado de quem vê o filho partir, ao perceber a minha angústia e o meu medo, com as suas palavras ela teceu uma rede de segurança por baixo dos meus pés e me impulsionou a voar. Naquele momento, eu entendi que ela sempre foi sincera quando dizia ter criado os filhos para o mundo. Naquele momento ela me ensinou o que é o amor que liberta.

Os anos se passaram, eu já vivia no Rio de Janeiro há 7 anos quando conheci o Filipe. Depois de 1 ano de relacionamento, chegou a hora de ele voltar para Portugal e decidimos que iríamos viver juntos no Porto, pois não queríamos ter uma relação à distância. Meus pais ainda moravam em Fortaleza e quando comuniquei minha decisão a eles por telefone, eles ficaram genuinamente felizes por mim e, mais uma vez, me incentivaram a partir e me asseguraram de que se eu não gostasse da experiência, tinha para onde voltar. 

É preciso muita confiança na educação que se dá a uma filha para incentivá-la a partir para outro continente para viver com um homem que eles nem conheciam direito. A minha mãe conhecia o Filipe "de raspão" e o meu pai nunca chegou a conhecê-lo pessoalmente. Ele faleceu 4 meses após eu ter me mudado para Portugal, mas mesmo apenas através de bate-papo pelo Skype, deu tempo de se tornarem grandes amigos. Felizmente, eu fui ao Brasil acompanhar a cirurgia do meu pai e estava lá quando ele faleceu, e mesmo tendo todas as razões do mundo para pedir que eu ficasse mais tempo ao lado dela e de meus irmãos naquele momento, a minha mãe foi comprar uma camisola super sexy pra mim e ao me oferecê-la, deu-se o nosso segundo pequeno diálogo que eu nunca esquecerei:
Meu pai, sempre me dando segurança para voar.

- Minha filha, eu estou sentindo a maior dor do mundo agora porque vivi o maior amor do mundo com o teu pai. Eu tô triste agora porque fui muito feliz com ele, e a única coisa que eu desejo é que vocês [eu e meus irmãos] sejam felizes com os parceiros de vocês como eu fui com o teu pai. Por isso, por favor, volta pro lado do teu marido, sejam unidos e aproveitem cada segundo dessa vida juntos, porque ela passa rápido demais...

Isso não foi bem um diálogo, foi mais um monólogo porque ela falava e eu só chorava. E hoje, quando li a homenagem que ela fez para mim pelo menu aniversário, fui catapultada no tempo para aquele momento e me dei conta do quanto essas atitudes dela e do meu pai sempre me ajudaram a superar os momentos mais difíceis longe de casa. Se sempre que eu falasse com eles ou meus irmãos após ter me mudado para a Europa eles estivessem tristes e chorosos, indiretamente me pedindo para voltar, eu não teria conseguido viver tanto tempo por aqui. 

Quando atualmente as pessoas me perguntam "mas você tem coragem de começar tudo de novo num quarto país"? (Estamos nos mudando para a França, depois de Brasil, Portugal e Holanda.) Eu costumo responder que sim porque na verdade, a decisão mais difícil que tomei foi quando resolvi sair do Brasil. Agora, se vou para a direita ou para a esquerda, não faz muita diferença. Porém, no fundo do meu coração, sei que o que me dá essa coragem mesmo é a tal rede de segurança que os meus pais teceram sob os meus pés, confiando em mim, nas minhas escolhas e me impulsionando a seguir em frente por mais medo que eu tivesse e eles também. 

Não só pelas palavras, mas principalmente pelo exemplo, eles me ensinaram que o verdadeiro amor existe, liberta e se alegra com a felicidade do outro, mesmo que essa felicidade seja há milhares de quilômetros de distância. É por isso que hoje o aniversário é meu, mas os parabéns são para eles. Um brinde a todos os pais que educam seus filhos para serem livres.     

5 comentários:

  1. Texto lindo, não pude conter a emoção! <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, amiga. Também foi escrito com muita emoção do lado de cá.

      Excluir
  2. Me acabando de chorar de emoção e alegria , por ter tido nessa vida a oportunidade de conhecer pessoas tão especiais. Amo vocês. Texto lindo Lara.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Cacazinha! Tenho certeza que você também viveu momentos como esses com a sua saudosa mamãe. Sorte a nossa! Te amamos também.

      Excluir
  3. É mana, como canta Renato Russo: "Quem inventou o amor?...me explica por favor!" Somos felizardos de termos pais tão fortes, tão plenos e tão incríveis. Eu, que hoje sou mãe, fico rezando pra acertar só um pouquinho, como eles acertaram tanto! Que Deus me guie.
    Eu que hoje, completo 38 aninhos e sinto essa teia sob nossos pés, tão bem tecida e descrita em tuas palavras, só quero estendê-la um pouco mais, agora, sob os pés do meu Pedrinho e dos meus futuros sobrinhos.
    Amo você, Amo João Paulo, Amo a extensão desse núcleo familiar.
    e o que sustenta o mundo é o amor sim. Nossos pais tem razão!

    ResponderExcluir